Cristologia | Artigo
"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16): Profissão de Fé e Fundamento da Igreja
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A confissão feita por São Pedro em Mateus 16,16 – “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” – representa um dos momentos mais solenes e decisivos das Escrituras, fundamentais para a fé cristã e para a doutrina católica. Neste artigo, exploraremos a profundidade dessa declaração, seu significado bíblico, seu papel na teologia católica e suas implicações para a vida da Igreja.
CONTEXTO BÍBLICO DA CONFISSÃO DE PEDRO
No Evangelho segundo Mateus (16,13-20), Jesus pergunta aos seus discípulos quem eles afirmam ser Ele. Diversas respostas são dadas, mas a de Pedro destaca-se: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Esta confissão não é apenas um reconhecimento da identidade messiânica de Jesus, mas também uma revelação divina concedida ao apóstolo, como Jesus mesmo afirma: “Feliz és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne nem sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16,17).
O termo “Cristo” traduz o grego “Christós” que corresponde ao hebraico “Messias”, significando “Ungido”. Jesus é reconhecido aqui como o Ungido de Deus, esperado aquele que cumprirá as promessas do Antigo Testamento, o Salvador enviado para a redenção da humanidade. Ao acrescentar “Filho do Deus vivo”, Pedro expressa a fé na divindade de Jesus, diferenciando-o de simples profetas ou messias terrenos.
FUNDAMENTOS BÍBLICOS E TEOLÓGICOS
Este momento da confissão é o ápice de um processo de revelação progressiva. Jesus é o Messias e, além disso, é realmente Deus, revelando-se não a partir da sabedoria humana, mas pela revelação direta do Pai. O “Deus vivo” denota um Deus pessoal, ativo, que está presente na história humana e na vida de cada crente.
NaCarta aos Romanos (1,3-4), São Paulo também afirma a divindade e messianidade de Jesus: “...segundo a carne, foi feito descendente de Davi, e proclamado Filho de Deus com poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos.” A ressurreição confirma que Jesus é Deus vivo, e não um simples messias político ou espiritual.
A CONFISSÃO COMO FUNDAMENTO DA IGREJA CATÓLICA
A tradição católica entende essa confissão de Pedro como o alicerce da Igreja. Jesus, ao ouvir a declaração, responde: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). A Igreja se funda, portanto, sobre a fé em Jesus como o Cristo e Filho de Deus.
Este episódio é a base para a doutrina do ministério petrino e do primado do Papa, sucessor de Pedro, que tem o papel de governar a Igreja “com autoridade de Cristo” (Lumen Gentium 18). O Papa é chamado a confirmar os irmãos na fé (Lc 22,32), garantindo a unidade e fidelidade ao depósito da fé transmitida desde os apóstolos.
A DIMENSÃO CRISTOLÓGICA DA CONFISSÃO
A expressão “Filho do Deus vivo” ressalta a dimensão cristológica essencial: Jesus não é um simples homem, mas possui a natureza divina. O Concílio de Niceia (325) proclamou na fórmula nicena que Jesus é “consubstancial ao Pai”, ou seja, da mesma essência divina.
A Igreja ensina que celebrar a fé em Jesus como Filho de Deus vivo é considerar a Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Catecismo da Igreja Católica, 253). A confissão de Pedro revela, portanto, a identidade de Jesus, que inaugura o Reino de Deus e realiza a salvação.
IMPLICAÇÕES PASTORAIS E ESPIRITUAIS PARA OS FIÉIS
A declaração de Pedro é um convite para todo cidadão fazer sua própria confissão de fé. Cada batizado é chamado a professar Jesus como Cristo e Filho de Deus vivo, fundamento sólido para a vida cristã e para o testemunho no mundo. Essa fé ativa é alimentada pela oração, sacramentos e vida na Igreja.
A fé na adivinhação de Cristo implica na entrega total a Ele, confirmando-O como Senhor e Salvador, que venceu o pecado e a morte. Como diz a primeira carta de João: “Cristo é a verdadeira vida que esteve junto ao Pai e se manifestou a nós” (1Jo 1,2).
RELAÇÃO COM A DOUTRINA DA IGREJA
O Catecismo da Igreja Católica (nº 422) afirma: “A profissão de fé em Jesus, o Messias, e Filho do Deus vivo, é o primeiro passo da Igreja: é a 'pedra' sobre a qual Jesus Cristo decide edificar a sua comunidade” (Catecismo, 424).
A confissão de Pedro integra-se, portanto, à Tradição viva da Igreja, transmitida pelo Magistério, pelos santos e pelo próprio Espírito Santo. Ela é a porta da fé que abre ao mistério pascal e ao encontro pessoal com Cristo Ressuscitado.
CONCLUSÃO
A afirmativa “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” é, para a Igreja Católica, o fundamento da fé cristã e da identidade da Igreja. Não é apenas uma declaração histórica, mas o núcleo do anúncio evangélico que orienta a vida cristã, a missão evangelizadora e a comunhão eclesial.
Essa confissão, feita com inspiração divina por Pedro, constitui a pedra fundamental sobre o que está relacionado a missão da Igreja no mundo: ser testemunha de Jesus, o Cristo vivo, e servir ao Reino de Deus com fé, esperança e caridade. Para o fiel, é chamado a professar e viver essa verdade com coragem e fidelidade, fortalecendo-se na graça e na comunhão com o Corpo de Cristo.
